Escolher
a primeira palavra é sempre o mais difícil. Escrever. Descrever coisas,
situações e pessoas. Sempre o mais difícil é a primeira palavra. Depois deságua o texto, como avida. Que de início sofre para surgir. Força, lágrima e choro. E
a vida. É assim. A morte é um pouco diferente, um tanto mais frustrante, nos
pega de surpresa. Surpreendentemente redesenha os espaços de nossa existência. E
nos apresenta a fragilidade da qual somos constituídos. Este texto também está
situado nesse espaço de onde a fragilidade e o silêncio são mais fortes do que
a intenção da própria palavra, seu signo e significado.
Caro
amigo João, aqui continua tudo igual. Deste lado. Continuamos cumprindo nossos
horários, nossas reuniões. A correria não mudou. Todo o tempo, o tempo todo. O que fica é um estranho silêncio e muitas
lembranças. E uma incredulidade.
Parece,
ainda, que vais entrar porta adentro da escola, com aquele jeito bonachão,
sorrindo e contando alguma novidade. Mas entramos apenas nós, os que ficaram. Os
que aqui estão.
Às
vezes pensamos que não temos tempo nem para chorar os amigos que já não estão. Tudo
bem, não é o momento para lamúrias. Nunca fostes disso. Mas é que pensar na ausência
do amigo e em nossa própria finitude meche com nossas estruturas. Frágeis estruturas
de professores públicos.
Mas
estamos na luta. Em uma luta que sempre empreendestes de forma tranquila e bem
humorada. Confesso que o humor não anda muito bem por estas bandas. Caminhamos pelos
corredores da escola como se não soubéssemos o que fazer. O que fazer?
Escrevo-te
deste lado de cá. Nunca fomos grandes amigos, mas bons amigos. Colegas de
trabalho. Te escrevo pra dizer como a coisa anda. Um pouco triste. Há um ponto
silencioso no discurso de cada um de nós. Mas creio que estás bem. Como dizemos
deste lado: “Ele era um cara do bem.”
É
isso meu amigo. Como disse antes. O que esse texto não escreve é muito mais
importante do que está dito. Um abraço de todos os professores e amigos do
Instituto Estadual de Educação José Bernabé de Souza.
Continuamos
João. Continuamos...
Ronie Von Rosa Martins
Ao querido colega, amigo e vizinho João Alberto Caldeira. Realmente estamos sentindo falta da tua alegre chegada, de tuas conversas... tuas opiniões... Estamos indignados com o inesperado. Foram muitos anos de convivência e tua ausência dói demais. Ainda ontem, ao assinar meu ponto , abri o livro ao acaso e deparei-me com a página do teu nome. Foi a segunda vez que ocorreu isso , nesta semana. Coincidência ? Destino ? Telepatia ? Não sei ... talvez apenas saudade , vontade voltar no tempo. Ana Beatriz Ramalho
ResponderExcluirJoão Alberto um grande ser humano,como poucos nesse mundo.
ResponderExcluirLindas palavras Ronie, estamos sentindo muita falta desse sobrinho, amigo, colega e professor...só o tempo poderá amenizar a ausência física, pois ele estará sempre em nossos corações. Como disseste na tua carta "continuamos João.Continuamos...
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